Horizonte vazio em que nada resta
Dessa fabulosa festa
Que um dia te iluminou
As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,
Mas hoje estão vazias e gastas
E foi o meu desejo que as gastou.
Era do pinhal verde que descia
A noite bailando em silenciosos passos,
E naquele pedaço de mar ao longe ardia
O chamamento infinito dos espaços.
Nos areais cantava a claridade.
E cada pinheiro continha
No irreprimível subir da sua linha
A explicação de toda a heroicidade.
Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho.
Árvore morta sem fruto,
Em teu redor deponho
A solidão, o caos e o luto.
Sophia de Mello Breyner Andrensen