domingo, 7 de março de 2010

Horizonte Vazio

Horizonte vazio em que nada resta
Dessa fabulosa festa
Que um dia te iluminou

As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,
Mas hoje estão vazias e gastas
E foi o meu desejo que as gastou.

Era do pinhal verde que descia
A noite bailando em silenciosos passos,
E naquele pedaço de mar ao longe ardia
O chamamento infinito dos espaços.

Nos areais cantava a claridade.
E cada pinheiro continha
No irreprimível subir da sua linha
A explicação de toda a heroicidade.

Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho.
Árvore morta sem fruto,
Em teu redor deponho
A solidão, o caos e o luto.

Sophia de Mello Breyner Andrensen